Outro dia estava conversando com um chef mineiro que está com um projeto de apresentar a comida "do interior", "da roça" para as pessoas das grandes capitais quando senti uma alegria. "Enfim alguém me entendia" pensei...
Então acabamos entrando no valor da comida, no real valor. Não o valor monetário, o qual aliás, está cada dia mais alto, mas sim o valor sentimental, o valor gustativo.
As pessoas passaram a ter vergonha de dizer que comem (e gostam) de certos alimentos, as pessoas passaram a ter vergonha de confessar, como se fosse pecado, que compram miúdos, mortadela, salsicha.
Qual o problema com os miúdos? Coração, fígado, moela... Minha vó faz uma receita de moela ao molho que é de comer rezando.
E a mortadela, ah coitada da mortadela, essa virou sinônimo de pobreza e até em briga política ela já entrou. Não sei de onde saiu isso, mas esses dias vi uma charge da coxinha x mortadela (oi!??)
Pão com ovo. Amo pão com ovo, ovo de gema mole com um pouquinho de pimenta do reino moída na hora, mas esses dias vi uma postagem dessa no instagram, uma foto linda de pão com ovo, deliciosamente apetitosa mas com a infeliz legenda: "Me julguem" não, não não, ninguém deveria julgar, é um delicioso pão com ovo e as pessoas não podem comer porque parece comida de pobre? Tá errado!
Vamos parar com essa gourmetização louca de tudo, vamos parar de dizer qual comida é bonita e qual comida é feio de se comer, vamos parar de desvalorizar nossa comida do interior, nossa comida real, a comida que faz parte da nossa história, da história de nossa família, vamos parar de ter vergonha de dizer que gostamos disso ou daquilo.
É comida, valorize.
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